sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Cadê a Mata Atlântica do Noroeste Fluminense?

A colonização do Noroeste do Estado do Rio de Janeiro teve início logo após o descobrimento do Brasil  com o surgimento dos primeiros povoados as margens dos Rios que cortam a região e a primeira atividade econômica desenvolvida provavelmente foi o cultivo da cana-de-açúcar. Devido ao relevo da região não ser tão favorável ao plantio desta cultura a cana foi cultivada nas áreas de relevo mais plano próximas dos leitos dos Rios. Para analisarmos melhor a ocupação humana e destino da Mata Atlântica da região precisamos ir mais fundo e investigar o processo histórico.
As atividades humanas no Noroeste Fluminense são de longa data, sabe-se que os indígenas que habitavam a região utilizavam da caça e pesca e de uma certa forma já interferiam no meio ambiente. Evidentemente que de uma forma bem menos significativa se comparada com a situação atual e talvez não tenham provocado desequilíbrios tão significantes. Muitas tribos indígenas como por exemplo os Puris tinham o hábito nômade migratório, isto é, eles ficavam em uma determinada região e utilizavam dos recursos daquele lugar até ficarem escassos daí mudavam para outra área. Podemos imaginar as interferências locais devido a caça de animais selvagens para a alimentação, o que deixava a "floresta vazia" fenômeno onde árvores maduras são privadas das interações essenciais com seus dispersores como resultado da sua eliminação pela caça e fragmentação florestal, ou seja, a redução no número de espécies de um determinado ecossistema acaba por trazer consequências para toda a fauna e flora.
Um outro dado interessante que mostra a longevidade das intervenções humanas na região reporta ao fato da cana-de-açúcar ter sido introduzida na região Norte Fluminense em 1538 por Pero de Góis. Veja abaixo o trecho da carta de Pero de Góis ao Rei D. João III que deixa claro a intenção em povoar as terras que recebeu do Rei.

"Escrevo-lhe isto para que o saiba: neste rio (Managé – atual Itabapoana), como digo, determino fazer nossos engenhos d’água; estes dois homens com outros dois, que para isso assoldadei, vão arrotear e fazer com os índios muita fazenda, a saber: plantar uma ilha que já tenho pelos índios roçada de canas,e assim fazer toda quanta fazenda pudermos fazer, para que, quando vier gente, ache já que comer, e canas e o mais necessário para os engenhos."

Segundo o historiador João Oscar a praxe colonial era levantar engenhos em regiões de abundantes recursos hídricos e próximo a matas para o fornecimento de lenha e fazer-se o primeiro engenho perto da primeira povoação. Ora, sabendo-se que o primeiro engenho de Pero de Góis foi feito às margens do rio Itabapoana, pelo raciocínio lógico foi deduzido que o primeiro povoado chamado Vila da Rainha localizava-se pouco abaixo do mesmo, nas proximidades da foz desse rio. Para Tereza Peixoto, houve muita resistência e conflitos com os indígenas e somente anos mais tarde prosperou a primeira Vila chamada de São Salvador onde hoje é a atual cidade de Campos dos Goytacazes.

Podemos imaginar pelo exposto acima que de uma forma natural o plantio da cana-de-açúcar se estendeu próximo dos Rios em direção ao Noroeste Fluminense e também podemos deduzir que a pressão sobre a mata ciliar dos Rios da região teve início nessa época, ou seja, a menos de 1 século após o início da colonização portuguesa. As interferências humanas no ecossistema da região são muito antigas e as atividades de subsistência, primeiro indígena e posterior da população ribeirinha, desde os primórdios interferiram de alguma forma no Bioma Mata Atlântica sobretudo através da caça e da pesca predatória. Obviamente que naquela época a população era muito pequena e os impactos ambientais foram menores, mas devemos salientar que tais impactos aconteceram de forma contínua por séculos a fio.

Tereza Peixoto ainda afirma que a população indígena no Norte e Noroeste foi dizimada e sua cultura destruída no processo de ocupação portuguesa. Os índios Goitacá, Puri, Coroado e Coropó que habitavam a região foram submetidos a catequização e aldeamento, uma espécie de confinamento em determinadas áreas, enquanto os colonizadores apossavam de suas terras. Os índios não se submetiam a trabalhos forçados e acabaram sendo aniquilados pelos brancos. Os indígenas eram nômades, vivendo da caça, pesca e uma agricultura primária. Tinham como costume limpar o terreno para o plantio através de queimadas, o que prejudicava a fertilidade do solo e os obrigavam a migrar de tempos em tempos, em busca de áreas virgens. José Otávio Aguiar reitera que obrigados a permanecerem nos aldeamentos, os índios tonavam-se extremamente dependentes dos favores da igreja ou do governo: a prática de seus costumes tribais era então inferiorizada e ridicularizada ao máximo, no sentido de que, abandonando sua identidade, incorporassem um novo ideal de homem submisso, entregue aos desígnios do Estado: estava, então, dado o primeiro passo rumo à morte de suas culturas.

As primeiras Vilas a prosperarem foram as que deram origem a Campos, São Fidelis e São João da Barra que exportavam para a capital do Estado produtos alimentícios utilizando o Rio Paraíba do Sul como via de transporte. Nessa época os habitantes do Noroeste Fluminense eram os índios Puris e a colonização portuguesa ocorreu logo após o domínio da baixada costeira. A primeira vila a surgir na Região Noroeste foi Porto Alegre as margens do rio Muriaé, hoje chamada Itaperuna. Aqui podemos perceber a importância que os rios tinham em uma época que não existiam estradas.

Com o passar dos séculos a expansão populacional foi inevitável e o impacto das interferências das atividades humanas sobre o meio ambiente aumentaram de forma proporcional. A agricultura de subsistência aos poucos foi substituída pela agricultura comercial primeiramente da cana-de-açúcar, além da criação de gado e, posteriormente, por volta do século XIX pelo cultivo do café. Nessa época foram implantadas as ferrovias e a colonização teve um grande avanço, naturalmente, o meio ambiente sofreu um gigantesco impacto. Nas áreas próximas dos rios as lavouras prosperaram, a Mata ciliar foi quase completamente destruída e a Mata Atlântica do Noroeste Fluminense que possui muitas árvores com característica caduciforme (perdem as folhas no inverno seco)  foi fragmentada ficando restrita as partes mais altas e encostas de difícil acesso.

A crise do café no início do século XX culminou com o fim do ciclo do café e os fazendeiros da região optaram por concentrar na criação de gado para produção de carne e leite. O foco na pecuária comercial continuou pressionando a destruição da Mata  para abertura de novas áreas de pastagens para o gado. A estratégia foi simplesmente deixar os bois penetrarem lentamente dentro dos fragmentos de Mata que ainda restavam e aos poucos estes foram destruídos. O processo de destruição é lento e quase imperceptível aos olhos da grande maioria e acontece até os dias atuais. Esse é um exemplo clássico do que pode acontecer quando o homem interfere de forma lenta e gradual por centenas de anos em um determinado ecossistema. Hoje restam na região apenas alguns poucos fragmentos que somam menos de 5% do total original do Bioma Mata Atlântica.

Se voltarmos 20 ou 30 anos no tempo iremos perceber que não houve muitas alterações no desmatamento porque aqui a coisa teve início a muito tempo atrás e os problemas enfrentados pela população atual das cidades como as enchentes não tem origem recente. Os impactos atuais apenas agravaram ainda mais a situação em virtude do crescimento desordenado das cidades que tiveram origem as margens dos Rios e do aumento sobretudo do esgoto lançado nos Rios sem tratamento. Atualmente a pecuária domina a paisagem, uma vez que, o relevo acidentado, clima seco e quente não é favorável a atividades agrícolas de grande porte, contudo, a região comporta apenas pequenas lavouras principalmente de hortifrutigranjeiros com exceção das partes altas do município de Varre-sai e de Bom Jesus do Itabapoana onde o plantio de café ainda persiste.

Portanto, fica evidente neste pequeno texto que a ausência da Mata Atlântica pode ter contribuído para enfatizar as mudanças climáticas locais e a localização preferencial das cidades da região nas margens dos Rios como por exemplo; Lage do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira, torna tais cidades mais suscetíveis e vulneráveis às enchentes. A ausência de matas ciliares contribui ainda mais para a erosão destas margens e assoreamento do leito dos rios agravando o problema. Finalizando, os municípios que apresentam um relevo mais acentuado e sem cobertura da floresta apresenta processos erosivos associados principalmente às áreas de pastagens.


Bibliografia:




terça-feira, 15 de junho de 2010

Estrada de Ferro Leopoldina Railway na Colonização do Noroeste Fluminense

A colonização do Noroeste Fluminense teve um grande impulso com a construção das estradas de ferro no final do século XIX. A sua construção foi fundamental para o desenvolvimento agrícola e posteriormente das cidades da região. Quase todas as cidades atuais ou eram pequenos vilarejos que foram cortados pelos trilhos da ferrovia ou nasceram ao redor das estações ferroviárias da Estrada de Ferro Leopoldina Railway que operou por cerca de 70 anos as duas linhas que cruzaram a região possibilitando aos fazendeiros escoar café, principal produto agrícola da época. Aliás, a ferrovia nasceu graças aos fazendeiros, mais sem dúvida a expansão ferroviária na região deve-se principalmente a iniciativa pioneira dos fazendeiros e comerciantes da Zona da Mata Mineira que transportavam sua produção e traziam produtos do litoral por meio de tropas de mulas.

Fica claro que era fundamental e necessário a existência de meios de transportes mais eficientes que as mulas para o transporte de uma agricultura em expansão. Na época o comércio era pequeno, só havia pequenos vilarejos, nenhum tipo de indústria, portanto, até mesmo o traçado da estrada de ferro priorizava as fazendas, pois foi a agricultura que tornou viável bancar os custos de sua implantação.

Vamos então conhecer alguns detalhes da construção dessas estradas de ferro.

A construção do trecho da ferrovia que passava pelos atuais municípios de Cardoso Moreira, Italva, Itaperuna, Natividade e Porciúncula tiveram inicio por volta de 1878, pelo fazendeiro Comendador José Cardoso Moreira proprietário da Fazenda Porto Alegre localizada onde atualmente fica a cidade de Itaperuna. José Cardoso Moreira era o principal acionista da ferrovia que recebeu o nome de Estrada de Ferro do Carangola e tinha concessão para explorar o trecho de Murundu município de Campos dos Goytacazes até a atual cidade mineira de Carangola. A estrada nunca chegou a Carangola porque ocorreram atrasos na sua construção ficando algum tempo paralisado na atual cidade de Cardoso Moreira. O tempo perdido foi suficiente para outra companhia a CEFL (Companhia Estrada de Ferro Leopoldina) que tinha pretensão de levar seus trilhos que vinha de Porto Novo do Cunha (próximo a Além Paraíba) até Manhuaçu passando por Carangola chegar primeiro a atual Porciúncula cruzando o caminho da EF Carangola. Houve, na época, uma grande disputa. Sabendo dos planos da CEFL o Comendador decidiu a partir de Itaperuna rumar seus trilhos em direção a Muriaé, mais ao chegar à atual Patrocínio do Muriaé a CEFL já havia passado a frente rumo a Carangola. Diante disso, o Comendador Cardoso Moreira decidido a tentar cortar a frente construiu outro ramal partindo de um ponto logo após Itaperuna rumo à atual Porciúncula e mais uma vez não consegui ultrapassar a CEFL, findando os trilhos da ferrovia nesta cidade. Alguns anos após a conclusão da construção da EF Carangola esta foi incorporado pela CEFL. Atualmente o trecho da EF Carangola não existe mais, tendo sido desativado em 1973 o trecho Porciúncula – Itaperuna e Patrocínio do Muriaé – Itaperuna e em 1977 o trecho Itaperuna – Murundu pela Rede Ferroviária Federal que havia incorporado esses trechos pouco tempo antes.

Outro percurso construído no Noroeste Fluminense foi à linha Campos Miracema. Construído no final do século XIX percorre os atuais municípios de Cambuci, Aperibé e Santo Antônio de Pádua. O pequeno trecho de Paraoquena a Miracema também não existe mais. Na época a CEFL também incorporou esse trecho algum tempo depois de sua construção. A linha está ativa até hoje, parou o transporte de passageiros na década de 80, mais continua funcionando para cargueiros da FCA (Ferrovia Centro Atlântica). O atual trecho interliga Campos dos Goytacazes – RJ a Recreio – MG, local onde existe um entroncamento com a linha que vem de Cataguases - MG.

A compra de várias linhas a preços absurdos, a multiplicidade de bitolas (distância entre os trilhos) e a má administração levaram a CEFL à liquidação em 1897. No ano seguinte nova empresa foi organizada em Londres, The Leopoldina Railway, para assumir os mais de 2.100 km de linhas já incorporadas à ferrovia.

A Leopoldina Railway operou as estradas de ferro do Noroeste Fluminense por cerca de 70 anos (1898 até a década de 70). A decadência da ferrovia está ligada diretamente a decadência econômica do Norte Noroeste Fluminense com o fim das lavouras de café na região e o início do ciclo do café e da cana-de-açúcar em São Paulo.

Veja abaixo o Mapa Ferroviário de 1961da Leopoldina, em destaque o trecho da antiga Estrada de Ferro Carangola (trecho Murundu – Porciúncula).
Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/index_rj.htm

No mapa abaixo destaque para o trecho Campos – Miracema ativo até hoje (exceto o pequeno trecho Paraoquena – Miracema) e gerenciado pela FCA (Ferrovia Centro Atlântica).
Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/index_rj.htm

Como podemos ver nos mapas o Noroeste Fluminense era recortado por ferrovias que o interligava a capital do Estado, Rio de Janeiro, e inúmeras outras cidades da Zona da Mata Mineira e Sul Capixaba. As ferrovias foram por um longo tempo o principal meio de transporte de cargas e de passageiros na região. O seu fim coincide com a abertura das rodovias atuais.

Parece claro que houve uma mudança de prioridade na época para o transporte rodoviário, fato que infelizmente ocorreu no Brasil inteiro, ficando para trás uma época de glória das ferrovias. Essa mudança de mentalidade não parece ter sido uma sábia decisão, nossas rodovias atuais sempre estiveram em condições ruins para o tráfego, foram construídas mais nunca houve manutenção adequada. Recentemente, finalmente, teve início a reforma do trecho fluminense da BR 395 que foi construída próximo do leito da antiga Estrada de Ferro Carangola acompanhando o Rio Muriaé da região de Campos até a divisa com Minas Gerais, mais esse trecho não atende a maioria das cidades que continuam com suas estradas ruins e, certamente, nos faz refletir do por que terem sido desativados o trecho da EF Carangola e finalizado na década de 80 o transporte de passageiros no trecho Campos – Recreio passando por Santo Antônio de Pádua. Caso estivessem ativas, poderiam servir como meio auxiliar ou mesmo como o principal meio de transporte de passageiros e cargas entre as cidades atuais, uma vez que a maioria das cidades do Noroeste Fluminense estão inseridas na antiga malha ferroviária, com exceções de São José de Ubá, Varre-sai e Laje do Muriaé.

Caso não tivessem sido desativados, com algum investimento em tecnologia e melhoramento dos trens os passageiros não precisariam se sujeitar ao transporte rodoviário atual, monopolizado e realizado por ônibus em condições pouco agradáveis. Parece evidente que a inexistência de concorrência é desastrosa para os usuários, se as ferrovias estivessem em funcionamento, teríamos mais uma opção para viajar com a segurança oferecida pelos trens, o que não existe nas rodovias mal sinalizadas e conservadas que cortam a região.

Ferrovia Transcontinental – EF-354

O futuro das ferrovias no Noroeste Fluminense parece promissor caso saia do papel o projeto do Governo Federal de implantação da Ferrovia Transcontinental (EF-354) que ligará o Porto do Açu em São João da Barra ao Peru interligando os oceanos Pacífico e Atlântico. O traçado planejado desta ferrovia prevê sua construção a partir de São João da Barra passando por Campos dos Goytacazes, Muriaé e Ipatinga em Minas Gerais e de lá rumo a Região Centro Oeste passando pelos Estados de Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre até a divisa com o Peru.

Esse ousado projeto coloca o Noroeste Fluminense de volta a era ferroviária, já que obrigatoriamente os trilhos precisam passar pela região no trecho entre Campos e Muriaé caso seja mantido o planejamento desse traçado. Mesmo que o traçado seja alterado para a região de Carangola como pretende tal município a linha férrea terá que cruzar a região. Ainda não existe um projeto definitivo indicando por onde passariam os trilhos e quais municípios seriam contemplados. Certamente haverá muita discução a respeito e muitas perguntas deverão ser respondidas. Por exemplo: De que forma essa nova ferrovia beneficiará nossa região? Haverá estações em algum ponto no Noroeste Fluminense? De que maneira ela pode contribuir para melhorar a economia e o transporte? O que deve ser feito para que a ferrovia incentive a vinda de indústrias para a região?

Caso seja mantido o traçado por Muriaé seria mais lógico os trilhos seguirem rumo a Campos através dos municípios de Laje do Muriaé, São José de Ubá, Cambuci na região de São João do Paraíso e São Fidelis podendo beneficiar, uma região que nunca foi favorecida por ferrovias e carece de investimentos para seu desenvolvimento. O lado positivo desta região é que ela não possui rios, áreas ambientais ou grandes montanhas, o relevo é muito parecido com o do traçado das antigas ferrovias que serpenteavam entre os morros próximos ao curso dos rios. Os pequenos morros não são páreo para o aparato tecnológico que existe atualmente na construção de grandes projetos como o de uma ferrovia desse porte. O lado negativo é que teriam de serem desapropriadas terras privadas para viabilizar a obra.

Caso seja alterado para Carangola o traçado mais lógico seria o mesmo da antiga EF Carangola, este é um ponto positivo, sendo que este percurso também apresenta pontos negativos, pois os trechos urbanos foram suprimidos pelo crescimento das cidades atuais. Além disso, possui seu leito ferroviário muito próximo aos Rios Muriaé e Carangola o que poderá trazer problemas com as licenças ambientais necessárias a construção da ferrovia. O traçado antigo teria de ser reformulado em muitos trechos para permitir o tráfego de cargueiros de grande porte já que o percurso antigo é muito sinuoso e há agora o minerioduto Rio-Minas que corta o traçado da ferrovia em alguns pontos.

Enfim, muitas dúvidas pairam no ar e como não se sabe ao certo o seu traçado fica difícil qualquer análise mais profunda. O que se espera é que a região saia ganhando com essa obra, caso ela realmente aconteça de fato.

Referências:

Cidade do Rio
Estações Ferroviárias
E_Centro_Oeste
Itaperuna Online
Portal Click
Projeto de Lei de Conversão nº 18 de 2008

segunda-feira, 8 de março de 2010

Rio Itabapoana: a fronteira natural e seu potencial

Itabapoana na lingua indígena significa: pedra empinada da aldeia do barulho das águas. O Rio Itabapoana é a fronteira natural entre capixabas e fluminenses desde a divisa de Minas Gerais até sua foz no Oceâno Atlântico. Esse rio destaca-se pelo seu potencial hidroelétrico possuindo várias cachoeiras em seu curso. Nasce na segunda montanha mais alta do País, a Serra do Caparaó, que abriga o terceiro pico mais alto do Brasil, o Pico da Bandeira com 2892 metros. Como a grande maioria dos rios brasileiros, também sofre os efeitos da colonização humana, recebendo efluentes oriundos das cidades por onde passa e sofrendo interferências no curso de suas águas pela construção de várias usinas hidroelétricas.

Dados Geográficos:

O Rio Itabapoana com 264 km de extenção é um rio brasileiro que banha os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. As cabeceiras do rio Itabapoana localizam-se na Serra do Caparaó. É formado pelo encontro do rio Preto com o rio São João, na divisa dos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. A partir daí, serve de limite entre o Espírito Santo e o Rio de Janeiro e após receber seus afluentes, rios Muqui do Sul, Guaçuí, Calçado e outros menores desaguar no oceano Atlântico, no distrito de Barra do Itabapoana o qual pertence ao município de São Francisco de Itabapoana. No seu trajeto forma muitas cachoeiras: Santo Antônio, Inferno, Limeira e fumaça, essa última com queda de 100 metros. A parte do Rio onde fica a maioria das cachoeiras está entre a divisa de Minas Gerais e a cidade de Bom Jesus do Itabapoana, pois nesse percurso o rio desce de sua área mais alta para a região de menor altitude.
A Bacia Hidrográfica desse Rio abrange uma área de drenagem de 4.875 Km² incluindo 18 municípios nos três Estados. Predomina os domínios geomorfológicos de montanhas ao norte, de colinas no médio vale e de planícies fluvio-marinhas no baixo curso entre os município de Presidente Kennedy (ES) e São Francisco do Itabapoana (RJ). O alto e médio vale do Itabapoana é cortado pelas rodovias BR-116, pela RJ-116 e pela BR-484, na direção da Serra do Caparaó.
No Estado do Rio de Janeiro possui uma área de 1.520 Km², correspondendo a 40% do total abrangindo totalmente o município de Bom Jesus do Itabapoana e parte dos Municípios de Porciúncula, Varre-sai, Campos dos Goytacazes e São Francisco do Itabapoana.

Dados Populacionais

Os assentamentos humanos não se limitam à margem dos eixos rodoviários, a densidade da população rural é relativamente elevada em relação às outras bacias (15,8 hab/ Km2).
Entre 1996 e 2000 os municípios do lado do estado do Espírito Santo apresentavam dinâmica populacional distinta dos municípios do estado do Rio de Janeiro. Enquanto do lado capixaba cresceram entre 5 e 10%, a população dos municípios fluminenses decresceu ou estagnou. Entre 2000 e 2007, dos dois lados do limite interestadual o crescimento populacional foi insignificante, com exceção de Varre-Sai (RJ). O mesmo padrão de baixo crescimento se repete em Minas Gerais. Mudanças na hierarquia da população total e urbana entre 1980 e 2007 foram importantes nos municípios do Espírito Santo (Presidente Kennedy, São José do Calçado, Guaçuí, Dores do Rio Preto). No final da década de 1990, para a região do Caparaó, tanto no Espírito Santo como em Minas Gerais (alto vale do Itabapoana) os fluxos imigratórios foram mais importantes do que nos municípios do médio e baixo vale.

Economia

A base econômica da bacia é representada pelos serviços urbanos e pelas atividades do setor primário como a pecuária leiteira, a cafeicultura, o plantio de cana-de-açúcar e a fruticultura tropical. O uso da terra reflete o perfil econômico, com predomínio das formações herbáceas para pastagem (63,6%) e de áreas de lavouras permanentes (café) e temporárias de baixa produtividade(26%). Bom Jesus do Itabapoana (RJ) possui um rebanho bovino significativo e a indústria de laticínios, a maior da bacia, é responsável pelo grande número de produtos de origem animal. A silvicultura para lenha ocupa quase toda a bacia do rio Itabapoana. Na região mineira além do café o turismo é muito significativo. As belas paisagens da Serra do Caparaó, tando do lado mineiro quanto do lado capixaba, atrai aventureiros do brasil inteiro, sobretudo, em busca de escalar um dos pontos mais altos do País, o Pico da Bandeira. As usinas Hidroelétricas também atraem muitos turistas.

Hidroelétricas

O potencial hidráulico do Rio Itabapoana permitil a construção de 5 usinas de pequeno porte. As PCHs são usinas hidrelétricas de pequeno porte, com capacidade de produção de energia superior a 1,0 MW e inferior a 30 MW, e cuja construção é autorizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Este tipo de usina é considerado estratégico para o setor elétrico pois representa um reforço no sistema de abastecimento de energia elétrica do País com baixo nível de impacto ambiental, em função de ter menor área alagada, e reduzido nível de perda de transmissão, por estar próximo aos centros consumidores.
Mesmo sendo uma hidrelétrica de pequeno porte, a construção de uma PCH exige grande mobilização, pois sua estrutura é semelhante à de uma grande usina, com barragem, túnel, casa de força, etc.
* A PCH Pedra do Garrafão, localizada entre os municípios de Campos dos Goytacazes (RJ) e Mimoso do Sul (ES), tem capacidade instalada de geração de 19 MW e energia assegurada de 12,15 MW médios. A usina será conectada à rede da distribuidora Escelsa, do Espírito Santo, por uma linha de transmissão de 17 quilômetros.
* A PCH Pirapetinga, localizada na divisa dos municípios de Bom Jesus de Itabapoana (RJ) e São José do Calçado (ES), tem capacidade instalada de 20 MW e energia assegurada de 12,99 MW médios. A usina será conectada à rede da distribuidora de energia Ampla, do Rio de Janeiro, por uma linha de transmissão de aproximadamente 21 quilômetros.
* A PCH calheiros tem capacidade de 19 MW de energia, sendo a área de seu reservatório de 45 ha. A usina será conectada à rede da distribuidora de energia Ampla, do Rio de Janeiro, por uma linha de transmissão até a cidade de Itaperuna (RJ).
* A Usina Hidroelétrica do Rosal entrou em operação em dezembro de 1999. Os 55 MW gerados são injetados no Sistema Interligado Nacional com uma linha de transmissão para o município de Alegre, no Espírito Santo e outra para o município de Mimoso do Sul no mesmo estado. A Usina possui duas unidade geradoras do tipo Francis, com queda nominal de 184,4 metros, e uma barragem em concreto do tipo gravidade, com 214,5 metros de comprimento e 34 metros de altura.

História

A colonização dessa região perece ter começado assim que o Brail foi descoberto. Durante a prospecção arqueológica realizada para o licenciamento ambiental das usinas Pedra do Gafão e Pirapetinga (usinas no Rio Itabapoana) foi identificado remanescentes de um dos primeiros povoados brasileiros, Vila da Rainha, fundado no ano de 1536. A descoberta é um marco fundamental da colonização portuguesa no Brasil, de grande relevância para a história do Estado do Rio de Janeiro e do País. A Vila da Rainha compreende um conjunto arquitetônico integrado por vestígios de construção em pedras de cantaria composto por cais, canaletas, edifícios e moinho que será transformado em um Parque Histórico-Arqueológico chamado Vila da Rainha.
Segundo as pesquisas do Museu Nacional, a Vila da Rainha foi fundada pelo colonizador português Pero de Góis, donatário da Capitania Hereditária de São Tomé, que deu este nome ao povoado em homenagem a D. Catarina da Áustria, esposa de D. João III. Pero de Góis trouxe mudas de cana-de-açúcar e construiu engenhos no local, explorando os abundantes recursos do Rio Itabapoana.
Existe o projeto de criação de um Parque para proteção das ruínas expostas e da sua estrutura pela pesquisa arqueológica. Paralelamente, será feita pesquisa histórica referente à documentação escrita, além de mapas e iconografias da região.
O Parque será uma espécie de museu a céu aberto, onde os visitantes poderão acompanhar os trabalhos de escavação e resgate arqueológico, além de conhecer informações sobre a herança cultural do País e da região.

Referências:

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Rio Pomba e sua importância para os Municípios localizados em sua Bacia Hidrográfica

O Rio Pomba, sem dúvida alguma, teve e tem uma grande importância para os Municípios localizados em sua Bacia Hidrográfica e através dele, assim como foi feito na Bacia do Muriaé, foi iniciado o processo de colonização da região. Em Minas Gerais é considerado o maior patrimônio natural da população que habita o seu entorno mais, infelizmente, esse patrimônio não parece ser bem preservado aja vista as constantes intervenções humanas, num processo iniciado durante o ciclo do café em toda a Zona da Mata e que não poupou nem mesmo as regiões das nascentes do rio. Além disso, o rio sofre constantemente degradação pelo lançamento de efluentes industriais e domésticos, construção de Hidroelétricas e em 31/03/2003 um grave derramamento de mais de 1 bilhão de litros de resíduos tóxicos de uma indústria em Cataguases causou prejuízos ambientais sem precedentes, sendo os reflexos desse acidente também detectados no rio Paraíba do Sul até sua foz no oceano Atlântico no estado do Rio de Janeiro.

Dados Geográficos do Rio Pomba

O Rio Pomba nasce na Serra Conceição na cadeia da Mantiqueira no município de Barbacena em Minas Gerais, percorre 305 km até sua foz onde lança suas águas no Rio Paraíba do Sul no município de Itaocara no estado do Rio de Janeiro. Sua nascente localiza-se a 1100 metros de altitude. No seu trajeto ele é alimentado por inúmeros córregos e ribeirões, bem como por outros rios como o Novo, Piau, Xopotó, Formoso e Pardo, que lhe garantem um volume de vazão surpreendente a menos de 150 km da nascente e apresenta um potencial hídrico significativo devido sua declividade relevante.
A bacia do rio Pomba apresenta uma área de drenagem de 8.616 km2, com o uso e ocupação do solo relativamente uniforme, abrangendo cerca de 35 municípios mineiros e 3 municípios fluminenses, onde vive uma população de aproximadamente 450 mil habitantes. Os municípios mais representativos dessa bacia do ponto de vista populacional, ou seja, aqueles com mais de 20.000 habitantes são: Cataguases, Leopoldina, Santos Dumont, São João Nepomuceno, Ubá, Visconde do Rio Branco, em território mineiro e Santo Antônio de Pádua e Miracema em território fluminense.
Os Municípios contados pelo Rio Pomba são: Santa Bárbara do Tugúrio, Mercês, Rio Pomba, Piraúba, Guarani, Descoberto, Astolfo Dutra, Dona Euzébia, Cataguases, Leopoldina, Laranjal, Recreio e Palma em Minas Gerais e Santo Antônio de Pádua, Aperibé e Itaocara no Rio de Janeiro.

Histórico do Rio Pomba

A história da colonização da bacia hidrográfica do rio Pomba está ligada à principal atividade econômica desenvolvida no Brasil colonial durante o século XVIII: a extração de ouro e pedras preciosas.
Em 1695, descobertas significativas de ouro ocorreram no Rio das Velhas, próximo às atuais cidades de Sabará e Caeté. A notícia rapidamente se espalhou promovendo uma verdadeira corrida do ouro nos primeiros sessenta anos do século XVIII, e a primeira grande corrente migratória para o Brasil.
Em 1720 Minas Gerais se torna uma capitania separada, e em 1763 a capital do Vice-Reinado foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, por onde entravam escravos e suprimentos e por onde saía o ouro das minas (FAUSTO, 1997).
Novos caminhos foram sendo abertos para possibilitar o tráfego de mercadorias para o interior, e de ouro para a capital. Um deles era o Caminho Novo, que ligava as regiões mineradoras ao porto e que passava pelo local conhecido como Região dos Pombos, onde cresceu o antigo povoado de Capelinhas das Mercês e também veio a se desenvolver o atual município de Rio Pomba.
O ciclo de expansão e riqueza, característico do primeiro momento de desbravamento da região, se fecha no ano de 1750, quando se anunciaram os primeiros sinais da queda da produção aurífera que se seguiria na segunda metade do século XVIII (FURTADO, 1999).
As margens do rio Pomba também eram uma conhecida região aurífera, atraindo mineradores de Guarapiranga na primeira metade do século XVIII. Os aventureiros em busca de ouro e pedras preciosas, que outrora se aglomeravam ao longo do caminho que ligava Vila Rica (atual Ouro Preto) ao Rio de Janeiro, se espalharam pela região quando as reservas de ouro nos vales dos rios Pomba e Paraibuna se exauriram em fins do século XVIII. Nessa época surgem os primeiros povoados que deram origem aos atuais municípios de Rio Novo, Descoberto (nome inspirado pela descoberta do precioso metal), e Astolfo Dutra.
No entanto, a conquista da região não foi nada pacífica. Os primeiros mineradores encontraram forte resistência por parte das tribos dos índios Coroados, Coropós e Puris. Choques, mortes e atrocidades dos brancos contra os índios eram constantes. A instalação das primeiras freguesias – povoados que surgiam ao redor de capelas – só foi possível graças à catequização dos índios pelo padre missionário Manuel de Jesus Maria, responsável pela fundação das freguesias de Rio Pomba, São Manoel do Pomba/São Batista do Presídio (atual Visconde do Rio Branco) e São Januário de Ubá (atual Ubá.

Hidroelétricas do Rio Pomba

Por atravessar dois estados brasileiros o rio Pomba é considerado um rio federal, isto é, pertencente à União. Isso quer dizer que obras passíveis de provocar grande impacto ambiental, como a construção de usinas hidrelétricas requer o acompanhamento e aprovação do IBAMA, o órgão federal responsável pela fiscalização e concessão, nesses casos, dos títulos de licenciamento ambiental. A Usina Hidrelétrica Barra do Braúna, no Rio Pomba, já é uma realidade. Localizada nos municípios de Laranjal, Recreio, Leopoldina e Cataguases apresenta potencia total de 39,0 MW. No final de 2009 deu inicio ao enchimento da represa com capacidade de 11,44 Km².
A Aneel autorizou a entrada em operação comercial da primeira unidade geradora da hidrelétrica Barra do Braúna. A primeira turbina da usina tem 13 MW de capacidade e conta com outras três unidades geradoras com a mesma capacidade instalada. Um empreendimento desse porte, sem dúvida gera impactos ambientais no ecossistema do Rio bem como aos pescadores que utilizam da pesca como meio de sobrevivência e moradores das áreas alagadas pelo reservatório. Do total investido de R$ 118 milhões, cerca de R$ 15 milhões foram aplicados pela empresa na área ambiental como compensação pelo alagamento do reservatório.

REFERÊNCIAS:

ANEEL
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 5ªed., São Paulo, Edusp, 1997, pp. 91-106.
FURTADO, Junia F. Homens de negócio: a interiorização da metrópole e o comércio nas minas setentistas. São Paulo, Hucitec, 1999, pp. 15-28.
FUNDAÇÃO COPETEC
RESENDE, Enrique de. Pequena história sentimental de Cataguases. Belo Horizonte, Itatiaia, 1969.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Rio Muriaé e sua importância histórica para o Noroeste Fluminense



Não dá para separar a história do Noroeste Fluminense da história do Rio Muriaé que corta a maior cidade da região e muito provavelmente foi através dele que se deu o processo de conquistas dessas terras pelos portugueses antes ocupadas pelos povos indígenas que habitavam a área. Primeiramente vamos conhecer alguns dados sobre o esse Rio.


Dados geográficos:

O Rio Muriaé nasce na Serra das Perobas a cerca de 300 metros de altitude no Município de Miraí Estado de Minas Gerais sendo que, para muitos, ele nasce da confluência de dois ribeirões: o Samambaia e o Bonsucesso ambos com nascente na mesma serra há algumas centenas de metros do local em que se encontram. A extensão do rio da nascente até a foz no encontro com o Rio Paraíba do Sul a cerca de 9 Km de Campos dos Goytacazes é de 295 km. Portanto, o rio Muriaé tem sua foz no rio Paraíba do Sul sendo um afluente da margem esquerda deste rio. O Muriaé também possui alguns afluentes ( Fubá, Preto, Glória, Gavião e Carangola) e banha 8 municípios: Miraí (MG), Muriaé (MG), Patrocínio do Muriaé (MG), Laje do Muriaé (RJ), Itaperuna (RJ), Italva (RJ), Cardoso Moreira (RJ) e Campos dos Goytacazes (RJ).


Podemos perceber que a sua bacia hidrográfica (conjunto de terras que fazem a drenagem da água das precipitações para esse curso de água e seus afluentes) é extensa, corta dois estados, Minas Gerais e Rio de Janeiro, atravessa inúmeras cidades, duas delas, Muriaé e Itaperuna, de médio porte e infelizmente, como ocorre em outros rios Brasil afora, sofre todo tipo de degradação, seja com a falta de mata ciliar (vegetação que ocorre nas margens de rios e mananciais) que deu lugar a pastagens, seja com o lançamento indiscriminado de todo tipo de esgoto (Industrial e doméstico) pelas cidades por onde passa. O irônico é que a população dessas cidades precisam usar a água do próprio Rio para consumo, é claro que existe todo um processo de tratamento pelas companhias de água antes da distribuição para a população, mais talvez fosse mais “inteligente” poluir menos o rio, já que ficaria mais fácil tratar a água e daria maior segurança a população! Isso sem fala no impacto ambiental que tal atitude vem causando na fauna e flora do Rio.


Bom, voltando no tempo, ao século XIX provavelmente sem a interferência humana esse rio era limpo e fornecia a população muitas espécies de peixes que serviram para matar a fome dos desbravadores. Hoje se alguém depender do rio para comer corre o risco de morrer de fome ou de algum tipo de contaminação! Um fato interessante é que foi através dele que teve início o processo de povoamento da região, pois era utilizado como meio de transporte para pessoas e escoamento de mercadorias em direção ao litoral. Naquela época não existiam estradas, como na Amazônia de hoje, as estradas eram os rios e o Rio Muriaé não possui grande inclinação, percorre grande parte de sua extensão em planícies, apresentando pequenos pontos de corredeiras que podiam ser superados por pequenas embarcações. Muitas povoações surgiram em suas margens e algumas delas provavelmente deram início às cidades atuais. Não é por acaso que as cidades de hoje se encontram em suas margens e é analisando o processo histórico que se pode chegar a essa constatação. Em meados do século XIX teve início à cultura do café que trouxe riqueza e ao mesmo tempo os primeiros problemas ambientais com a destruição da floresta para dar lugar as lavouras, um pouco mais tarde a construção da ferrovia, que segue as margens do rio, e estradas substituíram o transporte hidroviário. Com o fim da expansão cafeeira em 1930 e início da agropecuária o processo de desmatamento continuou até chegar ao cenário atual onde menos de 3% da floresta original sobreviveu segundo a fundação SOS Mata Atlântica.


Após todos esses anos de enorme modificação no ambiente da região o rio foi quem mais sofreu e continua sofrendo as conseguências, mas ironicamente não é só o rio que está sofrendo os moradores também sofrem com as cheias que nos últimos anos tem se tornado freqüente. Esse ano de 2009 tivemos, talvez, a maior enchente de todos os tempos na região desalojando moradores das cidades banhadas pelo Rio Muriaé. Seria culpa somente do aquecimento global? Seria culpa de um processo de interferência humana ao longo dos séculos na região banhada pelo rio? Seria o conjunto de ambas? Enfim, fica as perguntas para reflexão.


Rio Muriaé